O Toco do Lápis

10-09-2012 17:27

 

Lá, num fundo de gaveta, dois lápis estavam juntos.

Um era novo, bonito, com ponta muito bem feita. Mas o outro – coitadinho! – era triste de se ver. Sua ponta era rombuda, dele só restava um toco, de tanto ser apontado.

 

O grandão, novinho em folha, olhou para a triste figura do companheiro e chamou:

– Ô, baixinho! Você, aí embaixo! Está me ouvindo?

– Não precisa gritar – respondeu o toco de lápis. – Eu não sou surdo!

– Não é surdo? Ah, ah, ah! Pensei que alguém já tivesse até cortado as suas orelhas, de tanto apontar sua cabeça!

 

O toquinho de lápis suspirou:

– É mesmo... Até já perdi a conta de quantas vezes eu tive de enfrentar o apontador...

 

O lápis novo continuou com a gozação:

– Como você está feio e acabado! Deve estar morrendo de inveja de ficar ao meu lado. Veja como eu sou lindo, novinho em folha!

– Estou vendo, estou vendo... Mas, me diga uma coisa: Você sabe o que é uma poesia?

– Poesia? Que negócio é esse?

– Sabe o que é uma carta de amor?

– Amor? Carta? Você ficou louco, toquinho de lápis?

– Fiquei tudo! Louco, alegre, triste, apaixonado! Velho e gasto também. Se assim fiquei, foi porque muito vivi. Fiquei tudo aquilo que aprendi de tanto escrever durante toda a vida. Romance, conto, poesia, narrativa, descrição, composição, teatro, crônica, aventura, tudo! Ah, valeu a pena ter vivido tanto, ter escrito tanta coisa, mesmo tendo de acabar assim, apenas um toco de lápis. E você, lápis novinho em folha: o que é que você aprendeu?

 

O grandão, que era um lindo lápis preto, ficou vermelho de vergonha...

 

Por Pedro Bandeira.